O objetivo do OLL Blog é informar sobre a Oliveira Lima Library e aproximar o público da nossa coleção. Além de destacar itens do acervo e informar sobre as nossas atividades, queremos através do blog apresentar resultados de pesquisas realizadas aqui na OLL. Hoje inauguramos a série de posts com convidados e convidadas que generosamente aceitaram o convite para compartilhar conosco seus trabalhos. Esta seção vai ser tão internacional como é a a OLL, refletindo a variedade de temas, idiomas e perspectivas que podem ser estudados através das fontes do nosso acervo. Por isso, os convidados ficam à vontade para escrever no idioma em que desejarem e com o auxílio de uma ferramenta de tradução automática, o texto fica acessível a um número maior de leitores.
Espero que apreciem a primeira parte do texto do Professor Pablo Iglesias Magalhães sobre as nossas Servinas. A parte II será publicada na semana que vem. Não deixe de conferir!
As Servinas na Oliveira Lima Library
Parte I: A Typographia de Manoel Antonio da Silva Serva
Professor dos cursos de História, do Programa de Pós-Graduação em Ciências Humanas e Sociais e Vice-Diretor do Centro das Humanidades da Universidade Federal do Oeste da Bahia.
A Typographia de Manoel Antonio da Silva Serva (1811-1819), estabelecida na cidade do Salvador, um dos centros comerciais mais dinâmicos no Atlântico sul, não pode ser compreendida, em sua origem, como uma tipografia baiana. Constitui-se, antes, em uma casa de impressão ultramarina cuja origem se encontra nas transformações políticas ocorridas no Império português no início do século XIX. Ainda que parte da produção tipográfica da Serva, naquele período, fosse para ser consumida imediata e localmente, particularmente os periódicos, seus livros estavam inseridos em uma ampla rede comercial que, além das diversas capitanias do Brasil, os fazia alcançar livreiros e leitores na Europa, África e Ásia.
A produção tipográfica da Serva, inicialmente, respondia, para além das demandas de uma cidade portuária, às transformações políticas, econômicas e intelectuais que tiveram lugar no Império português. O conjunto de servinas custodiado na Oliveira Lima Library (OLL) é especialmente representativo para compreender aquele contexto histórico.
Manoel Antonio da Silva Serva nasceu em cerca de 1760, em Vila Real, capital da Província de Trás-os-Montes e Alto Douro, Freguesia de Cerva, do Conselho de Ribeira de Pena. Chegou à Bahia por volta de 1788 ou 1789, quando contava 27 ou 29 anos. Casou-se com Maria Rosa da Conceição (?- 1858), natural da Bahia. O comerciante tornou-se livreiro, instalando livrarias em Salvador e no Rio de Janeiro, onde negociava impressos portugueses e franceses. Em 1810, por sua diligência, foi publicado, na Impressão Régia do Rio de Janeiro, o primeiro catálogo de uma livraria no Brasil. Serva, naquele mesmo ano, passou a pleitear, junto ao governo português, permissão para estabelecer uma tipografia na Cidade da Bahia. Essa licença foi conseguida no início do governo de d. Marcos de Noronha e Britto (1811-1817), o oitavo Conde dos Arcos, que instituiu uma Comissão de Censura (1811-1821), cuja função era examinar os manuscritos remetidos para impressão.
A 13 de maio de 1811, foi inaugurada a Tipografia de Manoel Antonio da Silva Serva, instalada, inicialmente, no Morgado de Santa Bárbara, que já abrigava a sua livraria.
A OLL possui os dois livrinhos de cunho liberal, de autoria de José da Silva Lisboa (1756-1835), impressos no primeiro ano da tipografia. Essas duas obras, que já haviam sido publicadas no Rio de Janeiro, tem por título Observações sobre a franqueza da industria, e estabelecimento de fabricas no Brazil e Observações sobre a prosperidade do estado pelos liberaes principios da nova legislação do Brazil. Ambas estão alinhadas ao liberalismo econômico que começavam a ganhar força entre os intelectuais e políticos portugueses, especialmente pela circulação dos livros e traduções feitos por José da Silva Lisboa e seu filho Bento da Silva Lisboa, que verteram para a língua portuguesa os princípios econômicos postulados na obra do professor escocês Adam Smith (1723-1790).
A criação da Escola de Cirurgia da Bahia (1808), com sua subsequente elevação à Academia Médico-Cirúrgica da Bahia (1816) e Faculdade de Medicina da Bahia (1832), levou à Typographia de Serva a dar prelo a produção intelectual do corpo docente daquela instituição. O primeiro livro de medicina impresso na referida capitania foi Elementos de Osteologia Practica (1812), de José Soares de Castro (1772-1849). Também de Soares de Castro há uma tradução das Memorias physiologicas, e praticas sobre o aneurisma, e a ligadura das artérias, por Jean-Pierre Maunoir (1768-1861).
O médico que mais obras publicou na Typographia de Serva foi Manoel Joaquim Henriques de Paiva (1752-1829), inconfidente português desterrado na Bahia. Na OLL existe um exemplar do seu primeiro livro baiano, Da febre e da sua curação em geral: ou, Novo e seguro methodo de curar facilmente, por meio dos acidos mineraes, todas as especies de febre, originalmente impresso em alemão por Gottfried Christian Reich (1769-1848), traduzido em francês por Charles Chrétien Henri Marc (1771-1840) e, finalmente, para o português, circulando amplamente por gerações de estudantes luso-brasileiros.
A literatura também esteve presente na primeira fase da Serva. Na OLL há exemplar de um best-seller da época, a rara edição baiana das três partes da Marilia de Dirceu (1812), do poeta inconfidente Tomás Antonio Gonzaga. A terceira parte é apócrifa e não pode ser atribuída a Gonzaga. De original, há um exemplar de a Parafraze dos Proverbios de Salomão (1815), do mineiro José Eloy Ottoni (1774-1851), poema de natureza maçônica e relativamente fácil de encontrar em boas coleções. Também há um exemplar da Relação do Festim (1817), que traz um conjunto de composições, da autoria de alguns personagens influentes da época, como José Francisco Cardoso de Moraes, Paulo José de Melo Azevedo e Brito e Ignacio José de Macedo. De literatura clássica há a edição baiana da Arte Poetica (1818), de Quinto Horácio Flaco (65 a.C. — 8 a.C.), traduzida em verso português pelo médico e pedreiro-livre Antonio José de Lima Leitão (1787-1856).
No mesmo ano em que foi inaugurada, a Typographia de Serva começou a produzir livros didáticos para atender a demanda do ensino ministrado pelos professores régios e pelos poucos colégios existentes em Salvador. Um dos primeiros manuais didáticos na Bahia tem por título Principios Geraes ou Verdadeiro Methodo Para se aprender a lêr, e a pronunciar com propriedade a Lingua Franceza, folheto anônimo com 22 páginas, do qual existe um exemplar na OLL. Apesar do anonimato, é notório que seu autor foi Diogo Soares da Silva e Bivar, então acusado de inconfidência em Portugal e preso desde 1810 no Forte de São Pedro, em Salvador. Bivar (1785 – 1865) foi um dos mais atuantes intelectuais nos primeiros tempos da imprensa bahiense, colaborando com o padre Ignacio José de Macedo (1764-1834) na redação de a Idade d’Ouro do Brazil. Além disso, Bivar tomou parte na redação da revista As Variedades, considerada a primeira revista do Brasil, publicada em 1812. Foi também o autor do Almanaque da Bahia para 1812, o primeiro do gênero que se imprimiu no Brasil (1811). Bivar ousou, numa época em que francesia e jacobinismo eram sinônimos, publicar seu pequeno compêndio gramatical francês, tão bem recebido que o livreiro francês Rolland, radicado em Lisboa, imprimiu a segunda edição na capital portuguesa em 1820, com 32 páginas, também anonimamente.
Please, send our congratullations to thr auctor. We reconaze he is the spert of Silva Serva’ typography.